No outro dia, tive um cheirinho do que é ser-se português. Não. Não estava a conduzir bêbado em contramão. Estava sim em Montemor-o-velho, muito importante não esquecer o velho, a assistir a uma tourada! Por volta das 5 da tarde, lá estava eu, no meio daquela manada de gente para entrar naquela estrutura circular da qual não me lembra agora o nome, com o bilhete numa mão e um pacote de pipocas na outra, e sentei-me no meu lugar. Mal acabo de me sentar quando um gordo seboso e suado se vem apertar ao meu lado mungindo: "Esta é que vai ser uma festa brava! Parece que o primeiro touro pesa 600 quilos!" E eu, não sabendo como reagir, lá abanei a cabeça com um gesto afirmativo embora não consegui-se desviar a minha atenção daquela enorme bocarra cheia de dentes podres nos quais ainda dava para destinguir os resto do almoço. Mas antes que fiquem já enjoados, vamos centrar a acção na arena e no que realmente se passou.
À boa moda portuguesa, é costume ser primeiro um cavaleiro e de seguida um grupo de forcados. O cavaleiro foi magnifico! Que destreza, que valentia! Ele tinha uma vara de 3 metros na mão, em cima de um cavalo com outros tantos metros que corre duas vezes mais rápido que o touro mas...Bravo! Muito bem! Isso é que é valentia! Assim é que é! E para juntar um pouco mais de detalhe, o gordo ao meu lado não parava de grunhir: "Ele é bom, não é? Ele é mesmo muito bom!"
Depois vieram os forcados. Aqueles homens rijos e fortes alinharam-se de frente ao touro frágil e ensanguentado para levarem com ele em cima. Mas ao que parecia, o touro não estava lá com muita vontade de carregar sobre os forcados. Mas sinceramente, como é que eles queriam que o touro atacasse, se eles tinha aqueles gorros ridículos em cima da cabeça! Ou com gordos a cuspirem: "Anda lá! Força nisso!" como o que estava ao meu lado fazia! Bom. Relatando uma história longa de forma reduzida. O touro tanto teimou que o tiveram de ir buscar a força. Resultado: uns quantos forcados pelo ar, espirros de sangue na arena e muito entusiasmo pela humilhação do touro em ser domado por meia dúzia de homens que, só de os ver vestidos daquela maneira, dá vontade de fugir. Mas talvez o touro tivesse feito algum mal áquela gente e que mereça estar ali a cuspir sangue, sem força nas pernas com uma data de arpões cravados no dorso...Quem sabe.
Quando a tourada acabou, já nem conseguia acabar as minhas pipocas, de tão enjoado que estava. O homem ao meu lado dizia: "Bah! Foi fraquinho. Já comi bezerros mais ferozes do que estes touros!" Pois, acredito que sim! Mas a avaliar pelas dimensões descomunais do homem, a acompanhar os bezerros, também foram umas vacas e uns porquinhos gordinhos!
Agora já sei o que é ser-se português! Nunca me tinha passado na cabeça que assistir a um pobre animal, que nada fez de mal, ser massacrado e humilhado, à frente de pessoas que são bois autênticos, que mais nada tem para fazer na vida, poderia ser tão culturalmente estimulante! Já era de esperar que fosse, porque afinal de contas, é tradição!
NOTA: para quem não tenha percebido o objectivo deste post, fiquem sabendo que o escrevi com uma atitude inteiramente irónica. Qualquer "desporto" no qual se utiliza um animal para diversão geral das pessoas, é moralmente incorrecto. Se a tourada é considerada cultura, então. sff, tirem-me deste filme!
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